segunda-feira, 14 de julho de 2008

Pulo na janela

hoje, logo de manhã.
abri devagar. empurrei com força, equilibrando os dois lados.
primeiro uma perna, depois a bolsa. depois a outra perna.
e fechei com cuidado, pra ficar como estava antes. pra que ninguém percebesse.

onde que eu parei?
onde que eu caí?

eu queria ter caído numa estrada.
queria ter parado em um caminho sem placas, sem curvas, que estas que tenho por aqui já me bastam.
eu queria estar numa estrada de terra, de sol, de vento.
eu queria apenas meus sapatos, meus cadarços.
eu queria uma mala, uma mochila qualquer.
e nem o secador eu iria levar.
deixava o vento atrapalhar meu cabelos. ou ajeitar, se quisesse assim.
eu queria aquele sorriso.
aquele, satisfeito sorriso.
eu queria as mãos trêmulas de tanta coragem.
eu queria as pernas bambas, passos tortos de tanto desejo.

e ao me levantar eu queria as suas mãos.
uma só já seria o suficiente.
as suas mãos para segurar as minhas.
os seus olhos pra me chamar.
aquele convite que ninguém quer resistir.

e mesmo bambas, minhas pernas obedeceriam à minha vontade.
vontade que não passa, não passa de jeito nenhum
vontade que apenas descansa, guardada lá dentro do meu coração.
vontade que surje sempre e às vezes até me faz mal.
vontade que às vezes me engana, mas que é tão intensa, tão forte.

eu queria a nossa estrada, o seu caminho.
eu queria a sua mão.
a minha mão nos seus cabelos.
o meu peito no seu, devagar, de leve.
os seus olhos caídos, seu sorriso preguiçoso.

e pra frente, no caminho, só você
e eu.

Nenhum comentário: